Usuários querem mais qualidade e velocidade para o transporte público

Nunca o termo mobilidade esteve tão presente na vida dos brasileiros. As manifestações dos últimos meses trouxeram à tona a necessidade de ações efetivas na circulação urbana.


Entre as discussões, o transporte público coletivo figura como a tábua de salvação para os problemas de trânsito. Suas condições e prioridades dentro do sistema viário, porém, ainda são precárias, ilógicas e, por vezes, desumanas. Em Fortaleza, 1.800 ônibus e sete terminais de integração tentam dar conta do um milhão de passagens diárias. Não conseguem. O usuário ainda espera, se aperta e corre perigo, mesmo pagando uma passagem considerada, por ele, muito cara.

A rotina é conhecida por qualquer um que utilize uma das 265 linhas que interligam os bairros da Capital. “Você precisa esquematizar todos os seus horários para qualquer compromisso. Depender de ônibus é um mistério constante, você nunca sabe como e quando chegará aonde quer”, disse a zeladora Dalvirene Erick da Silva, 42. Ela foi uma das 18 pessoas entrevistadas pelo O POVO durante o trajeto da linha 042- Antônio Bezerra/Francisco Sá/Papicu, a mais utilizada da Capital, com 16.603 passagens diariamente. Entre os principais problemas citados pelos usuários: a demora (de chegada dos ônibus e no trânsito), a superlotação e os assaltos recorrentes.

Em dias úteis, de acordo com a Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor), a linha 042 deixa o terminal do Antônio Bezerra 134 vezes, entre 4h56 min e 23h40min, e sai 126 vezes do terminal do Papicu, entre 4h30 min e 23h25min. Durante os horários de pico, a quantidade de viagens não é suficiente para suprir a demanda e o “salve-se quem puder” para embarcar e seguir viagem é inevitável.

Muitos fatores corroboram para esta realidade, explica o professor do Departamento de Engenharia de Trânsito da Universidade Federal do Ceará (UFC), Mário Azevedo. “No primeiro momento, a solução seria colocar mais ônibus. Mas aí, com mais veículos, o trânsito para”, explica. De acordo com a Etufor, a velocidade média das linhas da Capital é de 18 km/h, quando o ideal, conforme o professor, seria entre 20 km/h e 25 km/h. Isto acaba por não equilibrar as quantidade de oferta e demanda. “Na lógica, basta que um dos ônibus passe mais lento e pegue mais passageiros, que estão esperando na parada há algum tempo. A projeção, porém, seria que o detrás pegasse parte destas pessoas. Acaba formando um trem, lotado e lento”, detalhou.

Por quê

ENTENDA A NOTÍCIA


Priorização do transporte público coletivo é a solução para acabar com o caos no trânsito. Passageiros e especialistas analisam o sistema oferecido na Capital e propõem melhorias

Frases


“A SUPERLOTAÇÃO AQUI É RESULTADO DO TRÂNSITO RUIM. TEM QUE FAZER COMO EM SÃO PAULO, COM FAIXA EXCLUSIVA, ONDE O MOTORISTA NÃO PARA E O ÔNIBUS TEM MAIS VELOCIDADE”
Antônia Holanda, 46, educadora. Faz o trajeto Barra do Ceará/Caça e Pesca

“O RUIM DO EMPURRA-EMPURRA PARA ENTRAR NO ÔNIBUS É PORQUE SÓ TEM UMA PORTA DIANTEIRA. MAS NÓS PRECISAMOS MESMO É DE MAIS ESPAÇO PARA OS ÔNIBUS NA RUA”
Bergson Vasconcelos, 24, eletricista. Faz o trajeto Antônio Bezerra/Aldeota

A QUANTIDADE DE ÔNIBUS NÃO CONDIZ COM A DE PASSAGEIROS. AÍ, CLARO, A QUALIDADE DO SERVIÇO NÃO É BOA. SEMPRE PEGO ÔNIBUS LOTADO E LENTO”
Tiago Oliveira, 26, técnico em Radiologia. Faz o trajeto Mucuripe/Francisco Sá

PRECISAMOS DE MAIS SEGURANÇA NOS ÔNIBUS. NEM QUERIA CONFORTO, MAS AGILIDADE E QUALIDADE, ISSO SIM. DEMORO QUASE DUAS HORAS SÓ PARA IR TRABALHAR”
Roberto Nunes, 26, auxiliar de almoxarifado. Faz o trajeto Vila Velha/Papicu

A PASSAGEM DEVERIA SER MAIS BARATA, PORQUE NÃO TEMOS NENHUMA QUALIDADE. JÁ FUI ASSALTADO NO ÔNIBUS E LEVO QUASE DUAS HORAS PARA O TRABALHO”
Márcio Greich, 36, auxiliar de cozinha. Faz o trajeto Papicu/Antônio Bezerra

JÁ QUEBREI MINHA PERNA PORQUE O ÔNIBUS SAIU CHEIO E EU ESTAVA PENDURADA NA PORTA. O MAIS REVOLTANTE É QUE SEI QUE DEVERIA TER QUALIDADE”
Darliane Alves de Lima, 25, garçonete. Faz o trajeto Antônio Bezerra/Mister Hull

EU SEMPRE ESPERO PELO PRÓXIMO ÔNIBUS, PORQUE ESTÁ LOTADO. COMO TENHO DE LEVAR MINHA FILHA PARA O TRABALHO, TENTO FICAR PERTO DA JANELA ”
Maria de Lurdes, 43, doméstica. Faz o trajeto Francisco Sá/Jardim das Oliveiras

ESSA FILA É UMA VERGONHA. TANTO FAZ VOCÊ ESTAR NELA OU FORA, VAI ENTRAR NO ÔNIBUS EMPURRADO. DEPOIS DO TRABALHO, EU QUERO É CHEGAR EM CASA”
Marcelo José de Araujo, 35 pedreiro, que ia do Conjunto Ceará para o Antônio Bezerra.
 

Serviço

Para informações sobre itinerários e linhas de ônibus 3452-9339/ 3452-8722.

Fonte: www.opovo.com.br

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